Fonte de imagem: Google |
“Quando acordei hoje de manhã, eu sabia quem eu era, mas acho que já mudei muitas vezes desde então.”(Alice no país das maravilhas, Lewis Carroll)
Mergulhei em um labirinto de reflexões surpreendentes ao identificar a presença marcante do tempo como forte protagonista no filme Boyhood (2014). Um longa-metragem produzido em 12 anos e com filmagens realizadas em 39 dias. Esta belíssima obra foi escrita e dirigida pelas mãos de Richard Linklater. Com certeza durante todos esses anos, não faltaram momentos de cumplicidade, dúvidas e talvez angústias entre os profissionais envolvidos na preparação da história de uma vida que naturalmente experimentou acontecimentos e amadurecimentos perceptíveis pelos anos marcados com belas sequências cinematográficas de Ellar Coltrane, que compartilhou uma parte de sua infância e juventude para dar vida a Mason, o personagem que evolui ao lado de sua irmã Samantha (Lorelei Linklater), sua mãe Olivia Evans (Patricia Arquette), o pai Mason Evans (Ethan Hawke) e tantas outras pessoas que se tornaram peças importantes no quebra-cabeça de sua vida.
“Não quero chamar a atenção. Quero tentar viver a vida fora de uma tela. Quero interações reais, com pessoas reais não com página de perfil.”
Na rotação dos instantes fundamentais dos cotidianos simples, pude assistir a poesia da existência de Mason escrita em suas experiências, que muitas vezes em silêncio ele absorveu pelo olhar...
“Não costumo vocalizar meus pensamentos e sentimentos.”
...Esse olhar que se esforçou em entender, receber e usufruir dos passos disponíveis a frente de si mesmo. Se ajustando aos capítulos de seus dias ou anos com porquês que mais se multiplicaram do que se explicaram. Sobrevivendo aos conflitos familiares, às mudanças de lugares, de casas e instituições de ensino, no contato com diversas pessoas e seus mundos de passagens muito rápidas em seu caminhar... De tanto conhecer e aprender sobre a vida mais observando do que falando, Mason descobriu na arte da fotografia uma alternativa eficaz de guardar os milímetros dos segundos de suas emoções e segredos em um diário com momentos paralisados em imagens significativas. Esta é a beleza de Boyhood, o filme que mostra nossa história pelo ângulo das câmeras, ou melhor, suas filmagens me fizeram compreender como somos vistos pelos olhos de Deus que acompanha as surpresas que se desenrolam nas vidas de suas criações. Eis aí a Roda Viva que Chico Buarque escreveu e cantou, continuando a ser real e presente no curso natural das dores e das alegrias, e como a letra diz, não podemos pará-la ou controlá-la, pois ela seguirá sempre, nos levará a conhecer e enfrentar novos caminhos, não importando qual destino irá nos escolher.
“Parece que o mundo está em algum lugar intermediário. Sem realmente vivenciar nada.”
Se pudermos ser parceiros do tempo, deixando de agir enlouquecidamente em busca de ser diferente do que já somos originalmente, a trilha que prosseguiremos se tornará menos acidentada.
Boyhood nasceu para que não nos esqueçamos da magia da infância que ainda existe em nós e da juventude que ainda vivemos, porque há um mundo de imagens, fatos e aprendizados nos aguardando dentro e fora das realidades do tempo que tem excedido as poesias filmadas e escritas antes mesmo que existíssemos aqui, no agora.
Este artigo, de minha autoria, foi publicado originalmente no blog Genialmente Louco.
texto bem reflexivo
ResponderExcluirpara pensar bastante, curti
http://felicidadeemlivros.blogspot.com.br/
obrigada, Thaila... =)
Excluir