Resenha O Rouxinol

O que era o amor quando confrontado com a guerra?

Autora: Kristin Hannah

Editora: Arqueiro

Páginas: 432

Skoob

O ano é 1995, muito idosa e com seu tempo de vida se esgotando, nossa protagonista senti necessidade de relembrar o passado e libertar alguns segredos antes de deixar a casa onde viveu por 50 anos.
No sótão empoeirado, em meio a quinquilharias encontra-se um baú que ficou fechado por 30 anos. Um baú contendo fotografias em preto e branco, postais, desenhos, jornais e uma carteira de identidade de Julliete Gervaise.
Ao ser questionada pelo filho sobre a identidade, foi como se ela fosse transportada no tempo e pra outro continente. Então voltamos ao ano de 1939.
Vianne e Isabelle, são irmãs, que após perderem a mãe foram abandonadas pelo pai e ficaram sob os cuidados de escolas ou conventos durante toda vida.
Isabelle sempre era espancada por conta de suas pirraças e por não aceitar e entender que tão de repente sua família e porto seguro já não existiam mais. Com uma diferença de idade de 10 anos, Vianne não sabia como lidar com a irmã.
Aos 16 anos encontrou Antoine, o amor de sua vida, com quem teve uma filha e teve uma vida tranquila e feliz até que a guerra se ocupou de trazer mudanças desagradáveis, desfazer lares e destruir vidas.
E foi assim que Vianne e Antoine se separaram, e a vida dela mais uma vez se transformou bruscamente e inesperadamente.

Isabelle prestes a completar 19 anos é expulsa de mais uma escola por conta de seu comportamento impulsivo e voluntarioso. Sendo despachada para a casa do pai, ela planejava manter-se o mais calma possível para evitar que ele a mandasse embora novamente, mas logo a guerra estourou e ela foi obrigada a deixar Paris e ir para casa da irmã.

Inconformada e sentindo-se de pés e mãos atados por não poder contribuir e lutar por seu país, no meio do caminho ela se une a um ex presidiário que promete ajudá-la e então essa história intensa começa.
A narrativa é em terceira pessoa, e assim conhecemos Vianne e Isabelle, que estiveram separadas por alguns anos. Mágoas e remorsos causados por um passado turbulento ainda as mantinham afastadas mesmo que morando sob o mesmo teto. 

Com a invasão da França pelos alemães, as irmãs precisavam se unir e entrar num consenso se quisessem sobreviver. Mas o fato dos alemães estarem aquartelados na casa de Vianne, tornou tudo ainda mais difícil, e Isabelle não conseguiu suportar essa convivência por muito tempo.

"Você vai aprender que muitas coisas são possíveis."pág 35

Isabelle é impetuosa, determinada e corajosa, tem sede e um desejo quase incontrolável de lutar pelo seu país, na esperança de libertá-lo dos nazistas alemães.
A identidade do narrador é mantida em segredo até os últimos momentos e isso torna a leitura ainda mais interessante e instigante. Me afeiçoei às duas irmãs e a todo tempo me questionava qual das duas (ou se ambas) conseguiria vencer e sobreviver a guerra.
A trama traz aquela sensação de aperto no peito logo nas primeiras páginas, assim já sabemos que o que nos aguarda é uma história densa, triste e marcante, num cenário bucólico, muitas vezes assustador e apavorante, que retrata com habilidade as dificuldades e sofrimentos enfrentados.
Dentre tantos enredo que abordam a temático, o rouxinol tem o seu diferencial, explorando a participação da mulher na luta por uma França livre.
Temos vários personagens secundários, e todos de igual destaque, importância e participação na trama. São autênticos, convincentes e bem construídos, características fundamentais para tornar o enredo real, arrebatador e surpreendente.
Histórias sobre a guerra sempre têm um ar pesaroso, sombrio, e quando bem escritas, conseguem tornar crível as dores e os medos de cada personagem, nos faz vivenciar um período  cruel mostrando como o ser humano é capaz de atrocidades inimagináveis.
É surreal pensar que homens, mulheres e crianças foram tratados com tamanha crueldade, humilhados, perdendo sua dignidade, a degradação sofrida não é coisa que se faça nem com animais. Cada vez que leio situações referentes ao período eu fico pasma com tanta barbaridade, os franceses passaram a ter todo tipo de privação, começando pelo toque de recolher e uso obrigatório de blecaute, seguidos por racionamento de comida, corte de energia, bens requisitados e sua liberdade de andar de cabeça erguida: fome, frio, medo, tristeza e sofrimento.

Outra coisa que é de cortar o coração refere-se às crianças, que moldadas pelo sofrimento, perderam a inocência sendo obrigadas a conviver com a insegurança, o medo e a incerteza.
O enredo de O Rouxinol traz duas guerreiras, mulheres fortes, corajosas, de personalidades bem distintas, separadas por anos, cheias de mágoas mas que se esforçaram e se arriscaram, cada uma a sua maneira.
A conclusão dessa história é comovente, impressionante e sensível, mesmo com o desfecho terrível dessa experiência vivida na guerra.

"Talvez agora você perceba que as consequências devem ser consideradas." pág 29

Avaliação:

A Autora:

Kristin Hannah é autora de 18 livros que já venderam mais de 8 milhões de exemplares no mundo. Ela largou a advocacia para se dedicar à sua grande paixão: escrever. Tem um filho e mora com o marido no noroeste dos Estados Unidos e no Havaí.