22 junho, 2017

Mesmo Se Nada Der Certo...Comece de Novo


"Será que todos somos estrelas perdidas tentando iluminar a escuridão?" Lost Stars (Estrelas Perdidas)


Um encontro de duas histórias aparentemente fracassadas e abandonadas por si mesmas por não saberem lidar com o NÃO que a vida tanto nos entrega… Assim começa um filme que me fez paralisar do início ao fim, sem que eu esperasse esta reação.



Nada combinando com o gênero comédia romântica ou musical, apesar das várias canções e um certo toque romântico nas cenas. O filme “Mesmo Se Nada Der Certo“, título que, na minha opinião, foi erroneamente recebido no Brasil, nos apresenta Dan Mulligan (Mark Rufallo), um produtor musical falido e quase desempregado, e a inglesa Gretta James (Keira Knightley), uma desiludida compositora/ intérprete, morando em Nova York, abandonada pelo seu namorado e parceiro de composição, Dave Kohl (Adam Levine, em sua estreia como ator), que seduzido pela fama e sucesso, se vende aos holofotes.
Begin Again (2013), título original, escrito e dirigido por John Carney, nos ensina, na verdade, que tudo, tudo pode dar certo, dependendo unicamente da visão que temos sobre o hoje das nossas páginas de existência. Não é de hoje que muitas lutas que passamos têm um meio ou fim que sempre enriquecem nossas vidas. O que falta em nós para compreendermos tudo isso é perceber de que ângulo estamos observando o problema, para depois, então, tentar tirar uma exata conclusão.


Escolhi o filme por ter no elenco o ator Mark Ruffalo. Sou uma grande admiradora dele, e somente por esta escolha, achei que isso seria o suficiente para ocupar minhas horas da noite, dando um sentido para as minhas insônias. Porém, no decorrer do filme, fui surpreendida.

A história das decepções de Dan, já no início, mostrou-me uma realidade diferente das que conhecemos na mídia musical. Uma garota com lindas inspirações musicais e bela voz, mas também carregando frustrações por não ter sido aceita no meio artístico devido a sua simplicidade e autenticidade. Um produtor musical cheio de amarguras adquiridas na traição conjugal, divórcio e afastamento de sua única filha. Esses são os elementos necessários para as tragédias emocionais de ambos.

Porém, no início do filme, estando no fundo do poço, acontece uma das cenas mais lindas para mim. Dentro do bar, ao som da voz ainda tímida de Gretta, ele a conhece! Exatamente nesse ponto, o diretor John Carney, nos envolve em uma capacidade de visão que sozinhos dificilmente teríamos condições de atingir. Nesta cena há três visões de diferentes ângulos e emoções: A visão de Dan, de Gretta, e também da câmera (nosso olhar) dentro do filme. O mesmo jogo de câmera, nos colocando dentro do cenário, já ocorreu no filme Snake Eyes, (americano de 1998, do gênero suspense, dirigido por Brian de Palma). E é nesta maravilhosa sequência emocionante, que começamos a enxergar que ainda há algumas faíscas de uma chama especial na essência de Dan.

Esses três ângulos que falei poderiam ter algum significado para a nossa vida? Prefiro pensar que sim. Porque acredito que devemos olhar uma situação complicada e traumática, procurando trazê-la para as nossas experiências. Na observação de Dan e Gretta, podemos encontrar resultados das muitas escolhas que fazemos, mas que às vezes, não conseguimos enxergar em nós. Talvez por nos faltar uma visão mais sensível, classificamos nossas fases com nomenclaturas ruins e concluímos que tais experiências foram horríveis e destruidoras, deixando de perceber o que elas nos acrescentaram.

Foi a partir daquele palco em um bar simples, que uma marcante amizade começou a ter vida. Quantos amigos podemos conquistar em momentos de crises? Quantos irão permanecer ao nosso lado, mesmo sabendo das dores que estamos vivendo? E se ambos estiverem passando por uma fase difícil e precisando de uma atenção especial? Será que um conseguirá suprir as carências do outro? O que Dan não esperava naquela noite, era que aquela compositora sem nenhum crédito com o público, com canções na gaveta e deixada pelo namorado, poderia contribuir em sua carreira com muito mais do que canções, shows, enriquecimentos financeiros, prêmios, respeito e status em sua profissão.

Ela entrou em sua vida para lhe doar amizade. Não uma amizade passageira, mas uma presença constante trazendo luz em muitos pontos apagados de sua vida pessoal, familiar e profissional. E ele também pôde respondê-la na mesma reciprocidade de lealdade. Ambos se salvaram de suas dores e permaneceram firmes, autênticos e vencedores em suas crises existenciais. Seus conflitos pessoais permaneceram ao redor de suas mais novas realizações, entretanto as simples coisas cotidianas, por exemplo, gravar um CD em ruas, prédios, trens, estacionamentos de toda a cidade de Nova York, com a presença de crianças que estavam brincando nas ruas e unindo músicos experientes ou não, cansados de seus trabalhos enfadonhos, em nenhum momento ofuscou a alegria e a esperança por estarem fazendo o que amavam. Eles encontraram em seu mundo o segredo de como ser feliz no simples e pouco.

Ambos começaram a olhar a vida como a única e eficaz oportunidade de celebrar: a existência das pessoas amadas, as canções nascidas de desabafos deixados na secretária eletrônica, a volta de um instrumento que foi deixado no passado, a surpresa de descobrir que a filha é uma boa guitarrista, compartilhar um maravilhoso sorvete na praça, sorrir e brincar soltos correndo da polícia nas apresentações na rua, conviver com a nova família: os músicos, a filha, a ex esposa, o amigo que toca nas ruas suas canções ruins (rsrs) e os novos parceiros que surgiram… Perdoar as mágoas das pessoas queridas. Existem na vida experiências mais lindas do que as que ensinamos e aprendemos dentro de nossos aparentes fracassos?

E para finalizar, recomendo a atenção da alma em parceria com a sensibilidade, quase invisível da nossa visão, sobre uma das cenas que mais atraiu a minha emoção: Dan e Gretta decidem harmoniosamente dividir as mesmas músicas através de um Iphone e dois fones. O que pude ver na verdade, foram pessoas redescobrindo a vida, andando pelas ruas, praças, metrôs, observando gente ser gente, correrias e personagens reais vivendo sem saber que estavam diante de dois olhares que contemplavam a vida e tudo o que até então era invisível, sem se conectar com os sons externos.

Diante dessa contemplação, era fundamental a liberdade. Por que, então, não dançar o próprio ritmo sem se preocupar com o ritmo dos outros e seus pensamentos? Momento marcante em que eles entraram em uma danceteria, continuando a ouvir e a dançar as músicas que tocavam no smartphone. Para mim, esta reação foi muito além da alegria de Gene Kelly na cena do filme Cantando na Chuva (Singin’ in the Rain, um filme estadunidense do gênero comédia musical, dirigido e coreografado por Gene Kelly e Stanley Donen). Para Dan e Gretta, essa experiência foi descobrir e sentir na pele, que mais vale dançar ouvindo o som de nossa alma, sapateando ou se sacudindo por sobre as errôneas visões que muitos fazem de nós, do que vender a nossa essência a troco do nada que são apenas 15 minutos de fama.

Finalmente os personagens, que para mim são duas *Estrelas Perdidas (título da canção *Lost Stars, uma das faixas da trilha sonora interpretada maravilhosamente pela atriz Keira Knightley) se encontraram e unidas levaram toda luz necessária nos lugares onde habita a escuridão: os nossos dilemas cotidianos.





“E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música.” Friedrich Nietzsche







Este artigo, de minha autoria, foi publicado originalmente no blog Genialmente Louco.

2 comentários

  1. Obrigada por dar aquele up desde o título! um ótimo texto
    http://felicidadeemlivros.blogspot.com.br/

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