Resenha Quissama

Autor: Maicon Tenfen

Editora: Biruta

Páginas: 308

Skoob

Quissama é uma obra baseada nos manuscritos originais de Daniel Woodruff, que foi a fonte de pesquisa crucial para o deslanchar desse livro. O documento do Arquivo Histórico do Rio de Janeiro continha ricos relatos sobre a capoeira, os escravos e personalidades históricas. Esses relatos foram reunidos, pois estavam em forma de diário, e assim nasceu Quissama, uma obra que mescla realidade com ficção.

Vitorino Quissama, também chamado de capoeira por sua habilidade de saltar e fazer piruetas para driblar o adversário, é um menino de 15 anos, cheio de gingado, é negro, escravo que fugiu para procurar a mãe desaparecida. 
Encontrou em Daniel Woodruff sua esperança, já que ele ficou famoso por solucionar o caso do sequestro de madame Aimée, muito famosa no teatro da época.
Daniel não tinha interesse de se envolver com um negro fugitivo apesar da sua curiosidade por jogos de luta e seu espírito investigativo(ele é um ex agente de uma conhecida agência investigativa da Inglaterra), mas mesmo fugindo e evitando todo e qualquer tipo de intriga se viu envolvido e atolado até a alma numa trama que ia muito além do simples sumiço de uma escrava. 
Prestes a ir embora do país, ele é procurado pelo ministro da justiça(José de Alencar) para solucionar um caso, e esse caso que a princípio é muito simples acaba puxando outro e mais outro e mais outro, até que ele se vê metido numa teia de intrigas e cheia de engenhosidades envolvendo interesses políticos, o elemento incitador dessa trama.
Dentro de um contexto histórico, o enredo aborda questões políticas, a roda de capoeira, a luta entre os Nagoas e os Guaiamuns, tudo rodeado por muito conflito.

Antes de ingressarmos na história que ligou Daniel e Quissama, ele nos situa de sua vida em Paris e sobre sua chegada ao Brasil, seus estudos sobre hábitos e caracteristicas do país, bem como toda situação histórica da época.
Quissama é uma obra rica, cheia de fatos históricos, que aborda a Guerra do Paraguai, escravidão, lei do ventre livre, política, abolicionismo e traz muita gente importante como José de Alencar(como ministro da justiça), princesa Isabel e D.Pedro II.

Devido ao subtítulo de livro, imaginei que fosse encontrar algo mais aprofundado sobre a história da capoeira, mas no decorrer da leitura percebi que esse não seria o foco, mas isso não interferiu em nada, foi uma leitura muito agradável, fluida, envolvente, enriquecedora e divertida também. A trama tem bastante personagem envolvido, é cheia de ação, aventura, reviravolta, crueldade e capoeira. A ambientação é tão crível, que é possível se sentir no RJ do século XIX. 

É característico da editora dar atenção a parte gráfica, e Quissama traz um trabalho que merece destaque. Apesar das folhas brancas, a boa gramatura das páginas impede sombras no verso, não atrapalhando a leitura. Além do mais as ilustrações de Rubens Belli ativam a nossa imaginação, e a decoração da letras dos títulos de cada capítulo completam o capricho.

O livro é composto por prefácio, epílogo, posfácio e notas válidas que enriquecem o texto e complementam com suas ressalvas. Trata-se um livro infantojuvenil, mas ele facilmente cativa o público adulto, então ele é um livro para ser lido por todas as idades.

Avaliação:

O Autor

Maicon Tenfen nasceu em Ituporanga (SC) no último dia de 1975.Em 1998, quando concluiu o Curso de Letras (FURB), já era autor de três novelas publicadas: Entre a Brisa e a Madrugada (96), Um Cadáver na Banheira (97) e O Segredo da Montanha (98).A esses títulos seguiram-se O Impostor (99), sua estréia no conto, e O Filho do Feliciano (2000), sua obra de maior fôlego.Em 2002 lançou Mistérios, mentiras e trovões!, que oferece dupla leitura: ou como livro de contos, ou como novela de suspense.Em 2005 e 2006 publicou dois livros de crônicas, respectivamente Mania de Grandeza e A Culpa é do Mordomo.Por duas vezes recebeu o primeiro lugar no Concurso de Contos Paulo Leminski, de âmbito nacional. Venceu também, em 2005, o Concurso de Contos de Araçatuba (SP), com A Vida e a Morte de Nick Fourier.Atualmente, Maicon reside em Blumenau, com a família. Escreve crônicas semanais para o Diário Catarinense e crônicas diárias para o Jornal de Santa Catarina, ambos do Grupo RBS. Leciona Literatura Brasileira em instituições de Ensino Superior.