Gosto de conhecer o histórico de algumas pessoas que admiro através de seus depoimentos, entrevistas e é claro, pelo livros, melhor ainda quando são autobiográficos. Conhecê-los pela leitura é muito mais envolvente do que por meio de filmes, onde, na minha opinião, o conteúdo não é totalmente completo, por mais que a reprodução do passado se repita nas sequências cinematográficas. Ainda assim prefiro a leitura que nos põe a imaginar de uma forma mais ampla e significativa cada detalhe de pensamento e movimento na escrita. Pela leitura podemos atravessar um túnel infindável, viajando por cada pedacinho das histórias que estão expostas nas páginas, como em um diário que repousa intencionalmente em uma mesa, à nossa disposição, aguardando pelo ávido e investigativo encontro de nossos dedos e olhar.
Porém, há em mim uma fagulha que se incendeia com maior intensidade quando a biografia retrata de vidas que foram radicalmente transformadas por um incidente que puseram em suas rotinas muitas limitações ligadas as deficiências, sejam elas motoras ou não. Pelo fato de ser deficiente física, minha curiosidade se fortalece querendo saber mais sobre o que mudou e melhorou a partir dessa mudança, pois sei que esta transição construiu uma muralha diante de nossas necessidades e vontades, e isso é para sempre. Entendo bem desse assunto pois vivo na pele todas as limitações que se aplicam a uma deficiência física, posso então responder a você com muita autenticidade: Não é fácil se habituar em viver essa metamorfose, porém, jamais posso desistir da vida! Penso que devemos explorar alguma saída que nos faça encarar esse destino e prosseguir a nossa história, afinal, ela não tem um ponto final.
A pouco tempo conheci mais uma personalidade que teve a sua vida modificada radicalmente após vivenciar uma violência que é tão comum em nossos dias. Depois de ser cravejado por nove balas, Marcelo Yuca, músico, letrista, poeta e ex baterista da banda O Rappa, passou a viver um novo capítulo em sua existência, se tornando mais um paraplégico habitando um país totalmente deficiente para lidar com esta classe, nossa classe, que assim como outras, deveria usufruir de uma qualidade de vida mais digna, mesmo com as dificuldades que o nosso estado físico já nos apresenta a cada dia.
No livro autobiográfico, Não se Preocupe Comigo, com o apoio de Bruno Levinson, ele relata sua vida antes e depois da paraplegia. Abre o coração, expõe com alma o amor pelas pessoas que continuaram ao seu lado, a tristeza pelo abandono, o tempo de superação e do pavor pela nova realidade, o desejo repetitivo pela morte, as mágoas, as experiências que ainda fazem parte desse processo de aprendizado, aprendendo a se conhecer nas dores fantasmas, na sexualidade pós deficiência, na musicalidade que o incentiva a continuar sendo poeta, no envolvimento político, nas amizades com bandidos e todas as muitas voltas da Roda Viva que ele enfrenta em sua condição física.
Trago à vocês nesse post, não só mais uma nova dica de leitura, mas também um pouco do que tem turbinado esta mente que pulsa energicamente, sem cessar, superando sempre a si mesmo e aos desafios que estão além da imobilidade, esta que de fato, tem lhe aberto um infinito leque de opções de viver, desde aquele 09 de novembro de 2000, o dia em que ele renasceu e através de muito esforço e parceria, nos tranquiliza em declarar: Não se preocupe comigo!
Sonho de ninguém comporta a realidade de ter virado um aleijado.
Naquela hora, tive a certeza de que não morreria, mas seria preciso renascer.
Ler foi libertador. A leitura pode ser amiga e companheira. Ela mudou até minha maneira de falar.
Quando comecei a escrever, não sabia que isso poderia virar poesia ou uma canção.
Inglês, eu aprendi na rua. Nadar, no sufoco. Dirigir, no improviso. Foi a necessidade que sempre me levou em frente.
Faz parte da minha construção, das minhas preocupações, questionar mais a razão de não ser aceito do que a falta de aceitação propriamente.
Muitas vezes, precisamos do ponto de vista de alguém de fora para entender e conferir um significado maior ao que fazemos.
Mesmo neste estado, ter a pulsação é o meu tesouro, é o sonho. Tenho sonhos de novo, e eles me incluem.
As coisas que mais me faltam são simples – sentir a grama sob os pés, por exemplo. Eu me lembro dessa sensação, mas já não tenho tanta certeza.
Quando sonho em ter um filho, me vem logo à cabeça a contribuição para o Povo dos Feios, para o orgulho dos feios. Os feios podem ser melhores, justamente porque eles não têm a facilidade estética.
Tudo o que consegui foi driblando as adversidades. Não sei tocar, mas toco. Não sei escrever, mas escrevo. Sou feio, mas pego mulher. Vou me virando.
O amor maior, o consanguíneo, também não se expressa como esperamos. Ele é o mais fácil de se cansar e se mostrar intolerante, justamente por ser tão íntimo, intenso, genuíno e verdadeiro. Foi a partir desse tipo de reflexão que passei a lidar melhor com o comportamento das pessoas.
Vivo sob uma sombra pesada do que possa vir a ser meu futuro. Uma solidão incrível. Acho que o homem confunde estar só com a solidão. Eu convivo bem com o estar só. Mas há momentos em que, como todo mundo, estou só com a minha solidão. E a minha solidão é risco de vida.
A vida de ninguém se esgota em si mesmo.
muito interssante, eu gosto de biografias, conhecer mais as pessoas
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Muito interessante. Parece ser uma leitura inspiradora.
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